O desmatamento contínuo e em grande escala somado aos impactos cada vez mais graves da crise climática estão empurrando a Amazônia para um ponto de não-retorno que pode mudar a face do planeta.
A floresta amazônica abriga cerca de 10% de todas as espécies conhecidas na Terra – e inúmeras outras que ainda nem foram descobertas. Ela armazena cerca de 250-300 bilhões de toneladas de carbono – o equivalente a 15-20 anos de emissões globais de gases de efeito estufa – e produz chuvas que sustentam algumas das maiores e mais importantes cidades e áreas agrícolas do mundo. A Amazônia também é lar para mais de 47 milhões de pessoas, incluindo 2,2 milhões de indígenas e representantes de povos tradicionais, cujas culturas estão profundamente entrelaçadas com a floresta.
Cerca de um sexto da área original da floresta já foi desmatado, para dar lugar, principalmente, à pecuária e à agricultura. E uma área de tamanho semelhante foi degradada pela exploração madeireira, obras de infraestrutura, garimpo ilegal, incêndios e outras pressões humanas.
Ainda assim, é possível encontrar na Amazônia vastas paisagens intactas onde a natureza continua a prosperar e onde os povos indígenas vivem de maneira sustentável através dos recursos da floresta. Mas por quanto tempo mais?Cientistas temem que, à medida que os impactos combinados do desmatamento, da perda de biodiversidade e da crise climática se multiplicam, a Amazônia possa atingir um ponto de não-retorno que a mudará para sempre.
O efeito dominó na Amazônia
A chuva é um componente essencial de uma floresta tropical. A transpiração – vapor de água liberado pela superfície das plantas – recarrega as nuvens e cria a chuva que sustenta a vida na Amazônia. No entanto, o desmatamento e a degradação florestal reduzem a transpiração, o que significa menos chuva.
Isso cria um efeito dominó. À medida que a chuva diminui, as árvores transpiram menos, reduzindo ainda mais a disponibilidade de água. Com condições mais secas, mais árvores morrem e a floresta se torna mais suscetível ao fogo. A transpiração e a chuva diminuem ainda mais… e assim segue em um círculo vicioso.
Eventualmente, as condições ambientais em grande parte do bioma amazônico se tornariam inadequadas para uma floresta tropical. Os impactos seriam devastadores. A biodiversidade da floresta tropical seria perdida para sempre. Comunidades seriam deslocadas e o patrimônio cultural seria destruído. Os padrões climáticos mudariam em toda a América do Sul, prejudicando a produtividade agrícola e o fornecimento global de alimentos.
Uma mudança dessa magnitude também aceleraria a crise climática global, à medida que a Amazônia passaria de ser um sumidouro de carbono para uma fonte de emissões devido aos incêndios e à morte das plantas. Até 75 bilhões de toneladas de carbono poderiam ser liberadas na atmosfera, tornando impossível limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Estamos próximos de um ponto de não-retorno na Amazônia? Vários estudos sugerem que esse ponto pode estar no horizonte se apenas 20–25% da floresta amazônica forem destruídos – um número perigosamente próximo. O ano de 2024 já trouxe mais incêndios recordes.
De janeiro a setembro foram registrados cerca de 104.652 focos de incêndio no bioma, o pior resultadoo desde 2007 para esse período. Até 2050, é previsto que cerca de 47% do bioma amazônico provavelmente estará exposto a distúrbios simultâneos, incluindo aumento das temperaturas, secas extremas, desmatamento e incêndios.
O que o WWF está fazendo?
As apostas não poderiam ser mais altas – temos que agir agora para proteger a Amazônia de danos catastróficos e irreversíveis.
No WWF, estamos trabalhando em várias frentes para ajudar a garantir o futuro da Amazônia. No Brasil, em 2002, ajudamos a lançar o programa Áreas Protegidas da Região Amazônica (ARPA) – a maior iniciativa de conservação de florestas tropicais do mundo.
O ARPA criou 27 milhões de hectares de novas áreas protegidas e melhorou a gestão de milhões de hectares adicionais. Para garantir a sustentabilidade a longo prazo do programa, ajudamos a assegurar US$215 milhões em financiamento, que financiarão a gestão das áreas protegidas ao longo de um período de 25 anos – e desde então desenvolvemos iniciativas semelhantes no Peru e na Colômbia.
Além das áreas formalmente protegidas, proteger os direitos dos povos indígenas e seus territórios é fundamental para o futuro da Amazônia. Quase metade das grandes áreas conservadas na Amazônia está em territórios indígenas, e os territórios das comunidades indígenas e tradicionais tendem a ter taxas de desmatamento mais baixas e maior biodiversidade do que outras áreas florestais, incluindo outras áreas protegidas.
Embora os povos indígenas tenham reunido conhecimento tradicional sobre a gestão sustentável das florestas, também firmamos parcerias com eles para usar a tecnologia mais recente para defender seus territórios. Em Rondônia, no Brasil, por exemplo, estamos apoiando várias associações indígenas a
utilizarem drones, smartphones e satélites para monitorar 22 territórios que cobrem uma área de 6,4 milhões de hectares. Isso fornece um alerta precoce sobre ameaças às suas florestas, como exploração madeireira ilegal, mineração, grilagem de terras e incêndios, além de evidências que podem ser usadas para tomar ações legais, defender mudanças de políticas e aumentar a conscientização.
Estamos também colaborando com parceiros em toda a Amazônia para gerenciar e prevenir incêndios, que aumentaram em intensidade e frequência. Na Bolívia, o WWF forneceu drones e outros equipamentos para grupos indígenas na linha de frente do combate aos incêndios e, no
Brasil, estamos trabalhando em um gerenciamento inteligente de incêndios em áreas protegidas e conservadas.
Além de nosso trabalho no campo, atuamos em nível global para enfrentar as ameaças à Amazônia – desde a colaboração com empresas e seus financiadores para garantir que seus produtos não contribuam para o desmatamento, até pressionar os governos a fortalecer seus compromissos e o financiamento para enfrentar a crise climática e proteger as florestas.
O destino da Amazônia afeta a todos nós – todos precisamos fazer parte da solução.